Por Sylvio Costa - Tem um tipo de ceticismo por aí, popular
à beça, que advoga que todo político é um canalha. O bom político só é
bom, reza esse tipo de crença, até chegar ao poder. Aí lasca tudo,
dizem.
Jamais embarquei nessa onda, que no fundo é nociva à noção mesma de
democracia. Implícito, o pensamento da inviabilidade da raça humana.
Político nenhum presta porque, afinal de contas, o ser humano é em sua
essência uma bela porcaria. Basta lhe dar a chance e ele sempre, sempre
escolherá o caminho do mal, entendem algumas pessoas. E, se ninguém é
digno de confiança e de respeito, como acreditar em democracia? Porque
democracia pressupõe a necessidade de compartilhar, acreditar, de sonhar
e realizar coletivamente.
Acompanhando de perto as atividades de deputados e senadores, como repórter, sempre foi possível ver com clareza as diferenças existentes entre figuras tipo Eduardo Cunha e Renan Calheiros – que, parêntesis, deviam estar na cadeia e não presidindo a Câmara e o Senado – e muitos parlamentares que não enveredaram pelo banditismo político, são atuantes e demonstram sensibilidade para captar as necessidades maiores do país. Vários deles poderiam ajudar, de dentro do Congresso, a implodir o asqueroso sistema político que tanto maltrata o Brasil, vocalizando nas tribunas o desesperado desejo da nação por mudanças.
Sem falar que até os canalhas têm seus momentos de brilho ou de herói.
Dito isso, o fato é que impressiona a quantidade de maus políticos. É a eles que gostaria de me dirigir, secretamente, numa espécie de confessionário às avessas. Quem sabe o espírito natalino não amolece seus corações e eles dão alguns minutos de atenção a um escriba que, perdão, adoraria vê-los cumprindo pelo menos metade dos mandamentos a seguir. Será que é impossível, minha gente? Caramba, os melhores cristãos – entre os quais, certamente não me incluo – tiram de letra os dez. O político não seria capaz de emplacar cinquinho?…
Aos dez mandamentos que todo político deveria seguir:
1. Sirva ao próximo – ou seja, aos cidadãos que você se comprometeu a representar – mais do que a você mesmo.
2. Não roube. Nem pra você, nem pro partido, nem para quem quer que seja. É óbvio, mas não custa repetir: qualquer forma de roubo é intolerável.
3. Não minta.
4. Guarde os domingos, feriados e no máximo 30 dias de férias no ano para descansar. Nos demais dias, trabalhe pra valer. Você é muito bem pago pra isso.
5. Não seja assassino. Nem de pessoas, nem do ambiente em que respiramos, nem da esperança do povo.
6. Honre a sabedoria acumulada pela humanidade ao longo de milênios. Leve em conta o que dizem as ciências, o que demonstra a história e o que falam os melhores especialistas de cada tema antes de manifestar opinião sobre ele.
7. Diga não ao eleitor que lhe pedir dinheiro, emprego ou qualquer outro tipo de favor.
8. Não aceite caronas em jatinho e outras mordomias oferecidas pelos ricos, rejeite doações eleitorais ou partidárias por caixa dois e preste contas com transparência das suas receitas e dos seus gastos de campanha.
9. Respeite a inteligência dos outros: não invoque o nome do povo para defender interesses subalternos nem apele à demagogia para atingir seus objetivos.
10. Não votem para agradar o eleitorado. Quando a sua convicção sobre determinado assunto contrariar o pensamento da maioria, fique com a sua convicção. É mais honesto.
No mais, excelente Ano Novo para todos.
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