Professora Elika Takimoto ficou surpresa e emocionada ao receber telefonema de Lula |
Autora do texto ‘Prometo não tocar no assunto’ recebe telefonema de Lula e se emociona. Ex-presidente ligou para a professora Elika Takimoto depois que conteúdo viralizou. Leia a íntegra do texto e detalhes sobre o telefonema.
Elika Takimoto, escritora e professora
de Física do CEFET-RJ, recebeu um telefonema do ex-presidente Lula após
o texto de sua autoria “Prometo não tocar no assunto” viralizar nas
redes sociais e ser republicado por diversas páginas na internet.
Elika, que também é doutora em Filosofia pela UERJ,
ficou emocionada com a ligação de Lula e relatou trechos do diálogo que
teve com o ex-presidente em um outro texto.
Confira, abaixo, a íntegra do texto “Prometo não tocar no assunto” e, em seguida, trechos do relato da professora sobre a conversa com Lula:
PROMETO NÃO TOCAR NO ASSUNTO
Fui orientada por várias editoras que entraram
em contato comigo a não falar de política nas redes sociais caso queira
ser uma escritora vendável. Perguntei: e sobre o que posse escrever?
Disserte sobre seu trabalho, Educação, ouvi como resposta. Ou sobre os
seus filhos, sugeriram.
Pois muito bem, trabalho no CEFET há dez anos
como professora de física e há um ano como coordenadora. Cheguei lá
pouco depois de Lula ter sido eleito presidente. No dia de minha posse, o
diretor falou que ali eu não iria encontrar professores infelizes.
Achei estranho, pois vinha da rede estadual e da particular onde
professor que não reclama nunca havia visto.
O tempo passou. De fato, nunca vi ali professor
reclamando das condições de trabalho. Vi as salas ganhando projetores
multimídia e quase todas serem climatizadas. Tudo o que pedimos para que
nosso laboratório de física ficasse mais moderno e atualizado
conseguimos. Fiz meu doutorado com redução de carga sem redução de
salário. Viajei para congressos e simpósios pelo Brasil inteiro tudo
bancada pelo CEFET. Jamais, em tempo algum, lembro-me de querer fazer
algo ali dentro para os alunos e para meu crescimento intelectual e ser
freada.
Há quatro anos, minha sala viu a diversidade. O
sistema de cotas foi implementado no meu CEFET. Se ganharam os cotistas
com a oportunidade, ganhamos muito mais os professores por entender que
capacidade intelectual nada tem a ver com a nota de uma prova de
seleção e mais ainda enriqueceram os outros alunos por testemunhar o
esforço de quem vive em outra realidade.
Sempre quis dar a melhor educação para meus
filhos. Nara se formou ano passado pelo CEFET e ontem, depois de chegar
da rua e ter visto o quão alienante é uma escola particular me disse: o
CEFET deveria ser obrigatório para todos. As escolas particulares
deveriam ser proibidas. Exageros à parte, ela quis dizer que lucrar com
educação (e saúde) deveria ser, no mínimo, digno de vergonha.
Moro em Madureira, Yuki tem amigos na escola em
que estuda (todos brancos) e, para equilibrar esse universo, levo meu
filho sempre no Parque onde a diversidade impera.
No Parque Madureira, semana passada, Yuki
conversava com um menino da idade dele (dez anos) que mora na Serrinha. O
coleguinha viu a mãe ser estuprada e estava contando para a gente como
foi. Ele estava acompanhado do irmão mais velho que estava “andando de
skate não sei onde” enquanto ele brincava no parquinho. Disse o menino
que o irmão vai matar quem fez isso com a mãe.
Hideo, meu filho mais velho, se formou agora em
música. Está doido procurando emprego – assim como seus amigos que se
formaram em engenharia, psicologia e ciências socias. Os editais para
cultura estão fechados. Sabe Deus com que idade eles vão se aposentar.
Desde o meio do ano passado, recebo orientações
de meus chefes imediatos para ajudar na contenção de despesas. Vi
professores querendo ir a congressos e impossibilitados por falta de
verba. Vai piorar, avisaram.
Temos toda a liberdade para usar metodologias
diferentes para ensinar não só no CEFET como em todo o Brasil como já
garante a Constituição. Mas essa nova reforma do Ensino Médio engana e
toma para si esse discurso que ‘agora’ as escolas vão poder trabalhar de
forma mais livre sendo que, em breve, veremos o aumento da dificuldade
dos pobres chegarem às universidades como deixa claro o texto dessa
Reforma.
Pronto. Falei do meu trabalho, sobre Educação e
sobre meus filhos. Seguirei a orientação e continuarei dissertando
sobre esses temas. Trarei números de quantas escolas técnicas foram
criadas em dez anos e quantas universidades novinhas em folha visitei.
Falarei também sobre a quantidade de amigos que tenho concursados e
sobre Lucimar, minha empregada, e suas colegas de trabalho que estão
felizes recebendo tudo o que tem direito.
Mas evitarei falar sobre política. Prometo.
O relato de Elika sobre o telefonema de Lula:
Estava eu lendo as mensagens que recebo inbox
(são inúmeras e não dou conta de responder todas) quando vejo a de uma
moça dizendo que trabalha no Instituto Lula e gostaria de conversar
comigo sobre um texto que escrevi cujo link para quem não viu segue aqui.
A moça que se chama Gabriella pediu meu
telefone. Dei uma estalqueada de leve nela para saber com quem estava
conversando e se poderia fornecer meu número.
Em menos de cinco minutos o telefone tocou.
– Elika, Gabriella do Insititulo Lula. Um minuto que vou transferir sua ligação.
– Ok. – respondi pacientemente.
– Alô, Elika. Oi, querida. Aqui quem fala é o Lula.
Abre parêntese.
Não sei o que você pensa a respeito dessa
figura histórica, mas uma coisa é fato: quem estava do outro lado do
telefone foi o presidente mais amado do Brasil cuja vida se confunde com
a luta de toda uma geração de brasileiros que sonha com um país
socialmente mais justo.
Não convém enumerar todos os prêmios e
condecorações que ele recebeu não somente aqui como em vários outros
países. A título de exemplo, no Brasil, Lula recebeu a medalha de ordem
do Mérito Militar, Naval, Aeronáutica, a Ordem do Cruzeiro do Sul, do
Rio Branco, a ordem do Mérito Judiciário e da Ordem Nacional do Mérito.
Recebeu da UNESCO, em 2008 o Prêmio da Paz; em 2009 foi destacado como O
Homem do Ano nos jornais Le Monde e o El País. Em 2012 recebeu o prêmio
de Estadista Global em Davos na Suíça. Mas há N outros que não citarei
para a postagem não virar uma biografia dele.
O que quero dizer a vocês é que eu estava falando com um homem que mudou o destino de muitos brasileiros […]
Não estou dizendo que quem me ligou foi o homem
mais honesto do Brasil, mas sem dúvida […] o homem responsável pelo
Brasil ter saído do mapa da fome e por hoje ter nas salas de aula do meu
CEFET, negros e pessoas carentes cujo destino foi mudado por uma
oportunidade.
Fecha parêntese.
– Mas o quê? Como?! Lula!!! Não acredito!!!!!
– Acredite, querida. Estou te ligando porque quero te parabenizar e agradecer por esse texto maravilhoso que você escreveu.
– Mas quem me garante que não é um imitador? No Brasil inteiro tem gente que imita o Lula!
– Deixe de bobeira, companheira. Sou eu.
Daí, meu povo, eu saí de mim. Meu coração
acelerou. Se fosse o Fernando Henrique me ligando eu ia ficar feliz
porque tenho umas coisas para dizer para ele. Mas Lula?! Meodeos. Não
queria deixar a emoção estragar aqueles minutos. Pensei: “aproveite esse
momento, Elika. Fale, pergunte… agarre a oportunidade. Quantas pessoas
você acha que recebe uma ligação do Lula?”, refleti e tentei me acalmar.
– Presidente, – assim o chamei no impulso – eu
quero lhe dizer que quem merece ser parabenizado por tudo não sou eu e
sim você. Em nome de todos os brasileiros que hoje comem, se vestem e
estudam, eu quero dizer: muito obrigada, Lula. E receba todo meu
sentimento pelo falecimento de Dona Marisa.
– Obrigada, companheira. Mas quero te dizer
umas coisas. Eu não sou de sair ligando para todo mundo. Mas seu texto
me tocou muito. Percebi sinceridade nele inteiro e sua angústia com tudo
o que está acontecendo. Liguei para te abraçar, agradecer e dizer para
continuar sendo quem você é porque você é uma pessoa maravilhosa demais.
Ah gente… sinto muito. Chorei como um bezerro com ele do outro lado da linha e soluçando falei:
– Presidente, como você vê o futuro do nosso
país? Sua luta está sendo movida pela esperança de ainda tocar para
frente o seu projeto ou apenas para ter uma morte política digna?
A resposta veio imediata:
– Companheira, acredite que há muita coisa boa para acontecer. Estou animado e muito otimista.
E me disse muito mais coisas que acho que não
convém falar aqui. Frases boas de serem ouvidas, sabe? Dessas que dá
vontade da gente fazer muito mais do que anda fazendo pelo próximo.
Enfim, gente. É isso. Lula me ligou, disse que
sou maravilhosa e trouxe a força que me faltava para continuar lutando
por uma sociedade mais justa.
Felicidade é pouco. O que sinto não tem nome.
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