Jovem moto pela PM/MA Foto: Reprodução |
Segundo a própria PM/MA, o jovem de 15 anos, que foi baleado no último domingo, 26/06, estava na garupa de uma motocicleta.
Em entrevista concedida ao Programa "Balança Cidade" da Tv Cidade filiada à Rede Record de televisão o pai do menor desmente a versão da PM/MA e diz que seu filho não é aquilo que eles estão dizendo e afirma que tem pessoas dispostas a testemunhar sobre a conduta de seu filho segundo o pai, o menor não tem envolvimento com drogas e não tem passagem pela polícia.
A sua prima, Tatiana Oliveira inconformada enviou para a imprensa "Carta Aberta" repudiando o acontecido, e cobra que seja instaurado um inquérito policial para investigar a morte do menor e o blog Coroatá Acontece após decisão tomada em sua redação resolveu postar o conteúdo da carta na integra, confira:
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CARTA
ABERTA
POR TATIANA OLIVEIRA - Espero que vocês
não precisem rezar todas as noites para que seu irmão, ou qualquer pessoa que
vocês amem, não seja mais um número dentre os mortos, presos ou gravemente
feridos do dia seguinte. Eu faço isso. E a dor é imensa.
Em 2014, a cada 03 horas, uma pessoa foi morta pela
polícia. No total, foram 3.009 mortes decorrentes da ação policial. Esses são dados
do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Ontem, minha família entrou para as estatísticas.
Nós nos tornamos mais um número. Meu primo se tornou parte dos índices que
demonstram a violência e o despreparo da polícia. E ele só tinha 15 anos. Foi
morto na última busca pelo lazer que o Estado nunca o proporcionou. Morto por
uma infração de trânsito. Ele estava sem capacete. Não. Ele estava sem a
proteção do Estado. Na verdade, ele era o alvo. Os tiros foram certeiros. E a
dor também. Estamos quebrados. Para sempre.
A Vila Teresa Murad, apesar de levar o sobrenome da
família que sempre dominou a cidade de Coroatá, nunca mereceu atenção. Sempre
fomos tratados como uma parte do Bairro Novo Areal, então, nesse texto, embora
reivindicando autonomia, continuarei com essa perspectiva para facilitar a
compreensão. O bairro sempre foi tido, pela maior parte da população, como
perigoso demais para freqüentar. Os “cidadãos de bem” não podem transitar por
aquelas ruas. A criminalidade é acentuada demais. É escuro. Sujo. Pobre. Somos
favela. Não somos iguais.
Bem por isso, quando há (escassas) rondas
policiais, a regra é “atira primeiro, pergunta-se depois”. Afinal, na Vila
Teresa Murad não se pode brincar com o perigo. Lugar de criminoso. “Bandido bom
é bandido morto”, repetem os “cidadãos de bem”. Não somos iguais.
Mas a culpa não é nossa. A cidade nunca parou para
enxergar todos os moradores da Vila Teresa Murad que trabalham de sol a sol, na
lavoura ou nas casas dos “cidadãos de bem”; nunca parou para se preocupar com
as crianças que crescem sem expectativa de um futuro decente. Sem que o Estado
lhes dê esperança. Porque não somos iguais.
Nunca merecemos iluminação pública de qualidade,
apesar de pagarmos a mesma taxa que os “cidadãos de bem”. Nunca merecemos ruas
asfaltadas. Por que precisaríamos de limpeza e coleta de lixo regular?! Nós não
somos iguais, afinal. Não temos praças. Não temos áreas de lazer. Não temos
projetos voltados às crianças e adolescentes. Mal temos escola.
O Poder Público só volta seus olhos para nós uma
vez, a cada 04 anos. Período eleitoral. Os moradores recebem políticos e mais
políticos. Apertos de mão. Sorrisos. Promessas. Politicagem. Nada mais. Estamos
cansados. Já passou da hora de sermos notados.
Não. Isso não é um apelo partidário. Isso é a
exigência de um direito político. Não nos importa se tratar de oposição ou
situação política. Vocês nunca nos viram. Nenhum de vocês. Talvez, porque seja
mais fácil oferecer algumas festas grandiosas em praça pública por ano. O “pão
e circo” ainda funciona. Os romanos não erraram. Mas nem só de pão vivem os
cidadãos coroataenses. Estamos cansados.
Vocês, representantes do povo, parem de representar
os próprios interesses. Por acaso, não sabem o que “povo” significa?! A
população que os elegeu precisa de segurança, infraestrutura, emprego.
Esperança.
E agora, sim, somos iguais. Em forma, ao menos.
A Vila Teresa Murad está abandonada desde o
surgimento, cansada de promessas. O copo, de tão vazio, transbordou. Parem de
achar que só tem “bandido” aqui. Se os índices de criminalidade são elevados,
por que ainda não foram implementadas políticas públicas que retirem os jovens
da vulnerabilidade a que estão expostos? A falta de expectativa mata nossas
crianças diariamente, as leva por caminhos tortuosos, e gera um ciclo infinito
de crimes e mais mortes.
E isso não será resolvido dando armas e veículos à
Polícia, senhor Governador. Tampouco aumentando o efetivo policial. Enquanto
não houver uma alteração na raiz da nossa polícia, continuaremos perdendo
jovens todos os dias para o uso excessivo da força, para a incapacidade dessa
instituição em desempenhar seu papel. Estaremos dando armas a pessoas
despreparadas, que delas fazem uso como se fossem a buzina da viatura, quando
deveriam ser utilizadas apenas e tão somente em casos de legítima defesa ou em
defesa de terceiros contra perigo iminente de morte ou lesão grave, nunca
contra um adolescente cujo único erro foi estar sem capacete.
Ao governo municipal, minha família não vai aceitar
a desculpa de que a Polícia é de competência do estado do Maranhão para se
eximir da responsabilidade de mais um número nas estatísticas. É mais que um
número. Era uma criança. Toda uma vida. Um futuro. Laços de amor. Uma vida foi
tirada pela omissão dos vários prefeitos, inclusive da atual chefe do executivo
municipal e do anterior a ela, para com um bairro inteiro.
Nós fomos relegados ao esquecimento por décadas.
Ademais, não se pode exigir, por mais louvável que
tenha sido a iniciativa, exigência legal, inclusive, que toda uma cultura
sedimentada entre os cidadãos seja alterada do dia para a noite. Essa mudança
exige paciência das instituições fiscalizadoras. Estou me referindo
especificamente à fiscalização de trânsito em Coroatá. O Poder Público, mais
uma vez, foi omisso por quase um século. Culpa exclusiva da Administração.
Se o Código de Trânsito é de 1997 e somente em 2015
o governo municipal resolveu exigir o uso de capacetes, ou melhor, punir quem
infringe essa regra, o mínimo exigível seria a modulação dos efeitos. Precisaríamos
de punições mais pedagógicas que repressivas. A população precisava ser
reeducada. Não morta.
Se a infração à legislação de trânsito não foi o
motivo pelo qual os policias atiram no meu primo, então podemos voltar algumas
linhas acima e refletir um pouco mais sobre o despreparo da instituição e a
responsabilidade do Poder Público com as condições da Vila Teresa Murad e do
Novo Areal.
Hoje, minha família chora, em pedaços, pela perda
de um ente tão querido por culpa do descaso e do despreparo das instituições
públicas. Nossa dor jamais passará. Tampouco nossa vontade de mudança. Nós
somos iguais!
Por enquanto, sigo rezando para que nenhuma pessoa
que eu amo se torne mais um número. E espero que vocês não precisem rezar por
isso também.
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