Imagem: Reprodução/G1 |
Andrea Ramal, colunista do G1, escreve texto baseado no tema do Enem 2016. Tema foi divulgado pelo Inep às 13h30 deste domingo (6).
O tema da redação do Enem 2016 é "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Ele foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) no início da tarde deste domingo (6).
Com base apenas no tema (sem ter consultado os textos de apoio que estarão disponíveis na prova), a colunista do G1 Andrea Ramal escreveu um texto que dá indicações de como o assunto poderia ser abordado.
"A FORÇA MAIS SUTIL
Num
recente pronunciamento, o Papa Francisco vaticinou que a série de
conflitos ligados a intolerância religiosa já corresponde a uma terceira
guerra mundial. De fato, enfrentamentos dessa ordem proliferam nos
diversos cantos do mundo, desde a Europa até a África, passando pelo
continente americano. Embora logo venham à mente os atentados ligados a
radicais muçulmanos, a intolerância tem muitas faces e nuances. No
Brasil, por exemplo, país de raiz mestiça que abriga um rico sincretismo
cultural, ainda persistem a discriminação e os ataques a religiões de
ancestralidade africana e indígena.
O
fenômeno não é de hoje. Já na Antiguidade, os primeiros cristãos foram
duramente perseguidos por judeus e pagãos. Os judeus sofreram o massacre
mais cruel durante o século XX, imposto pelos nazistas. No Brasil, seja
de forma explícita ou velada, ocorrem os mais variados tipos de
desrespeito à liberdade de expressão religiosa. Os principais ataques
envolvem os neopentecostais e avançam sobretudo contra religiões de
matriz africana. As atitudes fundamentalistas impactam outras áreas,
como a dos direitos sexuais, acabando por intensificar a violência e, em
muitos casos, chegando à barbárie.
Para
mudar essa realidade no contexto brasileiro, há que entender as suas
origens. A intolerância religiosa nunca é um fato isolado e deve ser
interpretada a partir dos contextos geopolíticos. Em geral, está
circunscrita em conflitos econômicos, sociais e políticos, e se liga com
a relação de poder e dominação dirigida às minorias.
O
passo mais imediato para superar esse desafio é a informação. Já nas
escolas as crianças devem ter acesso a um ensino, mais do que
confessional, inter-religioso, marcado pelo respeito, sem interferências
ideológicas. Além disso, há que exigir o cumprimento das leis que
protegem as vítimas de intolerância e objetivam garantir a igualdade de
direitos de todos os cidadãos, membros de um Estado laico. Essas ações
podem ser fortalecidas, ainda, com políticas públicas e real
comprometimento do Estado para aplicá-las – por exemplo, fortalecendo os
movimentos sociais de combate à intolerância e incentivando a
participação da sociedade civil. Um exemplo é o Conselho de Diversidade
Religiosa, implementado com bastante sucesso no Rio Grande do Sul.
Por
fim, haverá que ir até os pontos mais críticos do problema, que estão
nas raízes de preconceito e dominação que marcam a nossa história.
Superar essa idiossincrasia irá requerer uma mudança de atitude e de
mentalidade dos indivíduos e da sociedade. Como disse Mahatma Gandhi, “o
amor é a força mais sutil do mundo”. É esse amor, que está na base de
todas as religiões e que deveríamos ter mais presente em nossas
relações, que pode levar à convivência entre os diferentes e à
disposição de dialogar e aprender uns com os outros."
Fonte: G1/Globo
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