Provavelmente, você a conheça como“PERIGUETE”, “LINDA”, “NEOSALDINA”ou até mesmo como “GATA dos 2 reais”,
mas o que você não sabe é que ela prefere mesmo é ser chamada pelo seu
nome, Ivaldina, isso mesmo meu amigo leitor! Ivaldina Silva Santos, uma
pessoa que já se tornou popular na cidade de Pedreiras, seja por suas
frases famosas como “Ei gata(o), me dá dois reais” ou “Iaí Periguete!”
seja pelo seu jeito peculiar e irreverente de ser, a mesma é pedinte e
andarilha assídua das ruas da “Princesa do Mearim”. Muitos olham para
ela com um certo ar de desconfiança ou preconceito, mas o fato é que a
grande maioria dos moradores desta cidade a tratam bem e com o devido
respeito, todavia nesta matéria preparada especialmente para você que
tem em seu coração o verdadeiro sentimento de amor ao próximo, iremos
revelar a verdade sobre esta pessoa tão querida. Acredite amigo, este é
um relato fantástico!
Confira os detalhes da emocionante
entrevista de Ivaldina Silva Santos, que abre o seu coração ao falar dos
grandes momentos de sua vida, tanto os bons, como os ruins.
Jorge Henrique: Boa tarde, “Periguete!”. Quero iniciar esta conversa perguntando a você como prefere ser chamada.
Ivaldina: Rapaz, me chama mesmo de Ivaldina, eu não gosto que me chame de “periguete” não, mas o povo já acostumou né.
Jorge Henrique: Eu entendo. Então, nos diga sua idade e nome completo.
Ivaldina: Rapaz, eu num tô lembrada não, eu penso que eu tenho é 18 (Abrindo um largo sorriso), meu nome completo é Ivaldina Silva Santos.
Jorge Henrique: 18 anos?! (Risos). Você é natural de qual cidade?
Ivaldina: Eu tive de nascer em Codó, eu num digo isso pra ninguém não, acho que só tu que sabe.
Jorge Henrique: Como era a sua vida na cidade de Codó?
Ivaldina: Mermão,
eu entrei numa maldita duma droga e perdi a vida boa que eu tive lá,
tudo que é de pior na minha vida teve começo nas drogas.
Jorge Henrique: E como foi seu primeiro contato com o mundo das drogas?
Ivaldina: Sabe como
é né? Eu fui e aí ninguém mandou eu ser forçada, ninguém mandou eu
começar a fumar, eu que fumei, através dessa droga eu me arrebentei
todinha com a minha vida. “Tô com vergonha de contar a minha vida pra
tu” (Sussurrando).
Jorge Henrique: Eu
quero que você fique totalmente à vontade, pois só vou perguntar aquilo
que você puder me responder, mas eu quero que você me fale somente a
verdade, entendeu?
Ivaldina: Então tá.
Jorge Henrique: Você lembra dos seus pais e de tudo que você tinha em Codó?
Ivaldina: Lembro! Meu pai é Valdimiro e a minha mãe que morreu de choque, é a Maria de Jesus.
Jorge Henrique: Que barra, é muito triste quando um filho perde a mãe, desta forma então, é pior ainda. Você tinha que idade quando ela morreu?
Ivaldina: Eu era
pequenininha, desse tamanho assim ó (Gesticulando com as mãos a sua
altura na época), eu era de 5 anos, só lembro que eu tava lá dentro, aí
ouvi ela gritando de choque no quintal, tava se batendo no
chão.(Limpando as lágrimas que aos poucos escorriam em seu rosto) Num
gosto de lembrar disso não, a meu Deus do céu, isso dói muito na minha
vida.
Jorge Henrique: Não
fique assim Ivaldina, imagino que deve ter sido muito doloroso para você
presenciar uma cena como esta. Vamos mudar um pouquinho de assunto
então: Lá em Codó você já teve algum emprego?
Ivaldina: Não, eu
nunca tive precisão, meu pai me dava tudo que eu queria, parou de dar
quando tava sabendo das droga, mermão, eu entrei numa maldita droga, e
por causa dessa droga eu tô aqui ó. Meu pai, se fosse por ele eu ainda
tava lá (Com a cabeça baixa), mas eu caí na malandragem só com gente que
num presta, agora eu tou aqui desse jeito, quem tem filho tem que
prestar atenção nele se não entra nas drogas.
Jorge Henrique: Mas,
você entende que o caminho das drogas é errado e faz mal para sua vida e
para vida de tantos outros que estão nesta mesma situação?
Ivaldina: É errado,
mas num é fácil sair não, porque o povo diz é assim “Vai pra uma
crínica” a crínica é a gente, né os outros não, só quem tá lascado assim
como eu sabe o que eu passo, doida pra sair dessa vida mas num tem
jeito pra mim. (Com os olhos já cheios de lágrimas, as mãos tremendo e
um olhar levemente perdido como se procurasse alguém que lhe ajudasse,
com um grande desejo de receber carinho, atenção e proteção).
Jorge Henrique: Alguém
já tentou te ajudar? Pois fiquei sabendo que várias pessoas da cidade já
tentaram, mas você sempre voltava para esse triste caminho.
Ivaldina: Já, já mi
ajudaro muito, mas dentro de mim eu sinto que falta alguma coisa na
minha vida, pra fazer eu mudar (Já com um semblante cabisbaixo).
Jorge Henrique: O que seria esta coisa que falta dentro de você capaz de mudar a sua vida? (Com um ar de expectativa)
Ivaldina: Jesus!
Jorge Henrique: Que resposta mais linda! Jesus quer você ao lado dele. Você já frequentou alguma igreja?
Ivaldina: Sim, eu rá fui crente, crente de ir mesmo pra igreja!
Jorge Henrique: Pelo que percebi, você ficou feliz ao falar que já frequentou uma igreja, então por qual motivo você parou?
Ivaldina: Por causa
das droga do cão! O satanás atenta a gente de todos quanto é jeito, uma
irmã disse que eu tava pra desviar, aí desviei mermo.
Jorge Henrique: Já
perguntei se você alguma vez já trabalhou, mas por curiosidade vou te
perguntar algo que me contaram. É verdade que você já passou em um
concurso público?
Ivaldina: Ave Maria! Já foram fuxicar pra tu! Mermão isso é do passado, dói só de lembrar que num tenho mais a vida boa que eu tive lá.
Jorge Henrique: Mas é verdade mesmo?
Ivaldina: É, trabaiei de enfermera.
Jorge Henrique: Enfermeira! Então você deve ter concluído o ensino superior ou técnico em enfermagem certo?
Ivaldina: Não, era pedagugia, mas deram um jeito de eu entrar pra trabalhar lá de enfermage.
Jorge Henrique: Que notícia boa, vejo que você teve grandes conquistas na sua vida. Você tem filhos?
Ivaldina: Eu tinha faz tempo, era dois.
Jorge Henrique: Quais os nomes e idades deles?
Ivaldina: Mermão tú já tá querendo saber muito, era o Isac e Sara, os anos eu num tô lembrada, só sei que dei eles pro pai deles.
Jorge Henrique: Disso eu não sabia! Nessa vida perigosa que você leva no mundo das drogas, você já correu algum risco de morrer?
Ivaldina: Já, faz é tempo. Coisa de assassinato, mas num quero falar disso não, foi car disso que saí de lá.
Jorge Henrique: Mas você teme que algo ainda te aconteça mesmo você estando aqui?
Ivaldina: Sempre
fico cum medo quando alguém inventa de tá atrás de mim, penso logo que é
o doido lá que quer me matar por vingança, pensei até que tu era
mandado, o dotô delegado disse pra eu ficar calada, pois que eu era
inocente na história, e isso num é coisa de andar se falando não, né.
Jorge Henrique: Fique
tranquila, não estou aqui para lhe fazer mal algum, apenas para contar
um pouco da sua história para o povo da nossa região.
Ivaldina: Se
subesse que essa droga me deixava com o corpo assi, eu dava minha vida
pra Deus, mas eu sempre acabo me lascando no mundo de novo.
Jorge Henrique: Vou aproveitar que você já se sente um pouco mais à vontade e te perguntar, como é o teu dia a dia aqui em Pedreiras.
Ivaldina: Sei lá
doido, eu queria era saber onde foi que eu errei, ninguém num entende,
quem num usa pensa que é fácil de sair, mas né não, aí tem dia que eu
num uso a pedra, mas sempre uso quando dá, num quero mais enganar o povo
não (Com o rosto banhado em lágrimas), ás vez eu digo que vou comprar o
de comer e vou é comprar droga.
Jorge Henrique: Onde você mora atualmente?
Ivaldina: Já morei
mais de ano de baixo da ponte, lá era nojento, mas nun tinha aonde
ficar, agora estou morando com meu namorado perto do “carrim” (Local
próximo a rodoviária, onde há um pequeno casebre de apenas um cômodo
feito de madeira). Mas o rio ta aumentano, e eu tô cum medo de ficar
alagada.
Jorge Henrique: E o que você acha da cidade de Pedreiras?
Ivaldina: Eu acho
muito bom, aqui tem muita gente boa, mas ninguém resolve o meu problema,
só Deus! (Desta vez com a voz embargada, aos prantos e com a cabeça
baixa).
Jorge Henrique: Vai
ficar tudo bem! Acredite que algo é possível, lute pelo que você mais
deseja e então acontecerá! Enxugue ás lágrimas, vou te fazer só mais
algumas perguntas, aí terminamos nossa conversa.
Ivaldina: Eu quero
ir mim embora, quero viver de boa, essa vida tá ruim, o home ta me
pedindo a casa desde faz é tempo. (Novamente aos prantos).
Jorge Henrique: Prometo
que irei lhe ajudar como eu puder, divulgar sua história de vida para
as pessoas através do Blog do Joaquim Filho é uma das formas que posso
fazer. Em relação a Codó, do que mais você gostava lá?
Ivaldina: Meu pai que era bom, meu fi, eu tenho medo, medo de o cara vim atrás deu, eu quero viver de boa, quero uma vida de gente.
Jorge Henrique: Não
fique assim, ninguém te fará mal, você é uma boa pessoa, apenas fez
algumas escolhas que prejudicaram muito a sua forma de viver. Ivaldina,
percebi que você está ficando famosa na cidade, explique isso! (Risos).
Ivaldina: Moço, os
comerciante me chama pra fazer vídeo de produtos né, aí vou né, é só
coisa boa, porque eles me dão, e eu uso, as vezes vendo pra comprar
droga, moço compra um sutiã pra mim, o meu rasgou!
Jorge Henrique: Nesse momento eu só posso comprar um lanche para você, pode ser?
Ivaldina: Podi sim, é mior que nada.
Jorge Henrique: A sua vida vai mudar para melhor, o primeiro passo a ser dado é por você! O que você fazia antes e hoje sente falta?
Ivaldina: Antes das droga eu era dançarina na igreja, fazia dança das música que tocava lá.
Jorge Henrique: Que legal, Ivaldina! Queria ter essa disposição, (risos).
Ivaldina: Ei
menino, eu num quero dinheiro não, eu quero é o aluguel pra morar numa
casa de verdade, o rie tá pra incher, é só 150 reais, me ajuda moço,
óia, tu num precisa mi dar na minha mão, se tu quiser tu pode ir tu
mesmo dar o dinheiro na mão da muié.
Jorge Henrique: Eu
falei que irei lhe ajudar, e não volto atrás na minha palavra, vamos
entrar em contato com as autoridades municipais e ver o que eles também
podem fazer por você, ok?
Ivaldina: (Chorando
muito) Eu tô cum saudade do meu pai, eu quero ir mim bora, é saudade de
duer, as droga me acaba e hoje é assim que eu vivo.
Jorge Henrique: Ivaldina, e aqui em Pedreiras você já passou fome?
Ivaldina: Moço, aqui os pessoal só passa fome se quiser, o povo é muito bom comigo.
Jorge Henrique: Me alivia um pouco saber que a fome não é uma das suas principais privações, você tem amigos aqui?
Ivaldina: Tenho, os
meninos sempre ajuda eu quando pode, tem um aí que o povo chama ele de
liso, o “Tôin de França”, é gente boa, o moço do Paraíba disse que se eu
saísse dessa vida na merma da hora ele me dava um emprego, o pessoal
ajuda eu, só que é difícil essa vida de cão.
Jorge Henrique: Você aceitaria emprego se fosse para pagar o aluguel da sua casa?
Ivaldina: Mermão,
sim, só não de babá, num gosto de criar menino dos outros, porque eles
diz coisa cum a gente, e a gente que ta sendo pago num pode nem dizer
nada cum pratão.
Jorge Henrique: Estamos
chegando ao fim desta conversa, mas antes disso quero te fazer uma
última pergunta, diga aos leitores do Blog do Joaquim Filho e a toda
população de Pedreiras, Trizidela e região como seria sua vida dos
sonhos, diga a todos nós como você gostaria de ser ajudada!
Ivaldina: Menino, o
único que pode me ajudar é Deus, eu num quero mais usar droga não, eu
quero é o meu corpo de volta, eu tô tão ferrada que é difícil de me
imaginar eu saindo dessa vida de cão, pra viver de bem é só saindo das
drogas, quando num vejo os outros usando eu até me controlo, mas só de
ver já dá vontade de usar, quem puder me ajudar eu peço que me ajude,
porque eu nunca roubei nem peguei nada de ninguém, e só peço o que dá
pro dia, peço mesmo é pra Jesus me tirar dessa vida, num é vida de
gente, o povo me chama de mendiga, mas mendigo também é gente! (Desta
vez com a cabeça erguida, com os olhos cheios de lágrimas e
preparando-se para ficar em pé e ir embora).
Jorge Henrique:
Agradeço muito pela entrevista, sei que você deve estar com fome, pois
conversamos muito, irei pagar um lanche para você agora, vamos?
Ivaldina: Vamos, quero milho assado na brasa!
Após a entrevista, fomos lanchar como eu
havia prometido a ela, Ivaldina me contou outras histórias da vida dela
que a fez chorar muito, tentei confortá-la, mas sem sucesso, logo
depois do lanche ela seguiu sua vida andarilhando e pedindo nas ruas de
Pedreiras.
Amigo leitor do Blog do Joaquim Filho,
para muitos talvez uma matéria direcionada a história de vida de uma
pessoa simples e sem poder aquisitivo ou influência político-social como
Ivaldina, possa ser ignorada, alvo de piadinhas e demais tipos de
pré-conceitos, mas a lição que fica é para os que verdadeiramente
conhecem a palavra de Deus, aplicando o sentimento de amor ao próximo em
seu dia a dia, foi possível aprender muito com ela, para os olhares
mais atentos fica a lição da destruição que o caminho das drogas pode
causar na vida de uma pessoa. Ivaldina Silva Santos, antes de escolher
este terrível caminho formou-se, teve uma família, passou em um concurso
público municipal, tinha a presença de seu pai que lhe dava todo amor e
carinho que ela precisava, depois das drogas, infelizmente as coisas
ruins começaram a acontecer, perdeu a família, o emprego, a saúde, a
felicidade, a moradia e até mesmo o domínio mínimo da língua portuguesa,
todavia nem tudo está perdido, ela acredita fielmente que pode sim,
sair dessa situação e que o melhor caminho a ser seguido é o de Jesus
Cristo! Se em algum momento do seu dia você tiver o prazer de
encontra-se com uma pessoa simples, humilde e sincera como Ivaldina,
converse com ela, pois às vezes apenas a atenção vale muito mais do que
todo dinheiro que você possa dar a solidão e o sentimento de insegurança
e impotência foi o que pude observar com mais clareza em seu semblante e
em suas palavras, contudo, digo a você, desperte cada vez mais o
sentimento de amor ao próximo que há em você, demonstre mais amor, mais
carinho, mais respeito, mais compreensão pelo seu semelhante, pois tenho
certeza que desta forma não só a Ivaldina, como também Deus se alegrará
dos seus atos.
Não julgue os outros só por que os pecados deles são diferentes dos seus, ame mais, pratique mais amor, e jugue menos!
A vida agradece!
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