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Em entrevista exclusiva ao Jornal O
Imparcial, o senador Lobão Filho (PMDB), candidato derrotado nas
eleições de 2014 ao Governo do Maranhão, abordou vários assuntos e de
maneira sincera e transparente apontou alguns dos motivos do insucesso
nas urnas.
O senhor acredita que a crise da
Petrobras lhe atrapalhou, mas por qual motivo não acabou interferindo
na votação da Dilma Rousseff?
Boa pergunta. Nós vínhamos numa
crescente na campanha. Monitorávamos os números, principalmente em São
Luís e em Imperatriz. Quando a saiu a pesquisa Ibope, no sábado
estávamos a 10 pontos do nosso adversário, no mesmo dia eclodiram as
denúncias em relação a Petrobras. Nos quatro dias seguintes, eu caí mais
de 20 pontos em São Luís e em Imperatriz mais de 20, a diferença na
capital chegou a ser de 4 pontos, antes da denúncia. Então aqui impactou
demais minha eleição, principalmente nesses dois centros. O fato de ter
sido o meu pai citado naquela delação e não a Dilma, impactou
diretamente a minha candidatura e não a dela.
Existiram outros motivos para a sua derrota?
Depois disso vieram várias ocorrências,
ônibus pegando fogo, o problema de Pedrinhas. Mas acredito que o que
mais me atrapalhou foi a expectativa dos convênios que foram firmados
com o governo e não foram cumpridas este ano. Tanto que surgiu o
discurso de que não podia se empenhar na minha campanha, pois os
recursos para as obras não estavam chegando e assim não teriam como
defender o governo e a minha candidatura que estava vinculada. Aí você
soma tudo isso, ao desejo de mudança e chega ao resultado que foi
apontado pelas urnas. Eu fiz uma campanha leonina, sem dinheiro,
corajosa, em um estado que tinha um sentimento pró-Flávio Dino e eu
andei cerca de 40 municípios por mês, totalizando 160.
O senhor poderia então afirmar que faltou empenho da governadora na sua candidatura? Faltou ajuda dela?
Não posso dizer isso. O que posso dizer é
que ela enfrentou problemas muito grandes em seu governo, o que lhe
impediu de estar comigo na campanha. Ela foi comigo em três comícios. Eu
fiz uma campanha sozinho.
E mesmo fazendo sozinho, o senhor acredita que saiu derrotado?
Eu não saí derrotado, eu tive quase 1
milhão de votos. Dentro dessas condições que já lhe apresentei, acredito
que esses votos são meus e não do governo, que foram depositados em
minha confiança, por conta do meu trabalho. Agora ninguém mais pode
dizer que eu sou um senador sem votos.
Esses quase um milhão de votos lhe credenciam para ser a liderança desse grupo. O senhor deseja ocupar esse posto?
Eu agora tenho que voltar pra minha
casa. Eu agora vou refazer a minha vida. Eu não quero pensar em política
agora. É claro que não posso abandonar as amizades e compromissos que
fiz. Vou permanecer como cidadão, mantendo acesa essa chama da amizade
construída ao longo desse caminho. Mas eu não tenho mais nem vontade de
permanecer no Senado. Por mim, quero que meu pai volte a ocupar sua vaga
e eu retome meus negócios. Então não tem essa visão de permanecer como
oposição no Senado. Então deixa o quadro político se estabilizar para eu
pensar melhor.
Daqui dois anos teremos eleição
para prefeito. Sua votação dentro de São Luís foi expressiva. O senhor
se considera credenciado para entrar nessa disputa?
Qual o motivo do desinteresse nesse cargo?
Deixa eu lhe explicar. Eu não escolhi
esse caminho para mim. Do fundo da minha alma lhe digo com toda
sinceridade, se eu não tivesse naquele hospital, naquele quarto, naquele
estado de saúde, se não tivesse um conjunto de coisas, eu jamais teria
sido candidato. Não é por conta da dificuldade, mas é por não entender
que isso era pra mim. Aceitei, pois entendi como um chamado de Deus. Aí
você pode me perguntar, se eu me arrependo, eu digo com toda clareza,
não me arrependo. Agora também não posso negar a você, que ter andado
pelo interior do meu estado como candidato majoritário, mexeu comigo.
Ver as pessoas, as crianças, abraçando e chorando. Mulheres e homens.
Essa experiência muda a gente e me mudou. Eu tinha um propósito de mudar
o Maranhão de verdade. Mas essa não foi a vontade do povo e nem de
Deus. Então vou fazer o que eu puder para ajudar. Agora eu me candidatar
a prefeito não há menor hipótese.
O senhor acha que se tivesse descolado da família Sarney, teria uma votação melhor?
Só teria uma forma disso acontecer, se
eu brigasse com Roseana. E eu não iria brigar com a governadora para me
favorecer, afinal seria uma falta de caráter enorme. Existiam limites
que eu não avançaria para me tornar governador. Me acusaram de forjar
aquele vídeo. Eu jamais faria aquilo. Sobre hipótese nenhuma eu faria
aquilo. Mesmo se prometessem a vitória, eu não faria. Eu saio dessa
eleição com a consciência tranquila. Sai limpo dessa eleição. Não me
comprometi com ninguém. A minha campanha foi pobre financeiramente, de
apoios políticos dúbios e de 217 prefeitos, eu só tive de 10 a 15 me
apoiando firmemente. Eu tive que sobreviver a isso tudo, mas foi meu
destino e me rendo a ele.
O que o senhor tem a dizer aos seus aliados que lhe abandonaram na reta final?
Eu vou dizer: o povo há de julgar. Não
me sinto no papel de juiz para avaliar o comportamento desses políticos.
Eu fiquei chateado, mas cada um é livre para fazer suas escolhas.
Ninguém tinha contrato comigo, o que existia era um sentimento de
amizade e lealdade, se eles não foram assim comigo, paciência.
Analisando hoje a sua campanha. O senhor teria feito algo diferente, que poderia lhe levar a vitória?
Nesses últimos quatro meses, se não
existissem esses fatos exógenos a campanha, o resultado poderia ser
diferente. Mas os fatos ocorreram. Eu acho que o governo não me ajudou
em nada. Historicamente o governo foi um parceiro do seu candidato, eu
não tive essa parceria, pelo contrário, tive de vencer resistências.
Tiver que vencer adversidades como convênios que não foram assinados,
desgastes internos do governo, tudo acabou ficando nas minhas costas. Eu
tive que andar com esse fardo e esse fardo se demonstrou pesado demais
para alcançar a vitória.
E fica uma mágoa em relação à Roseana?
Não.
E em relação ao seu vice? Ele lhe abandonou também?
Negativo. Meu vice ocupou uma função
extremamente estratégia. Eu lhe dei uma missão importante. Ele precisava
manter o contato com a classe político em todo momento. Arnaldo Melo
ficava aqui em São Luís, ligando para nossos aliados, segurando eles
aqui. Ele foi responsável por segurar muitos aliados no nosso campo.
Tanto que publicamente somente Hélio Soares, Marcos Caldas, Léo Cunha e
Dr Pádua, declararam apoio ao Flávio Dino. Sei que os outros cruzaram os
braços, mas Arnaldo foi o responsável por segurar muitos aliados.
Alguma coisa lhe deixou chateado nessa campanha?
Eu tive surpresas. Mas o que mais
surpreendeu foi à postura do Edmar Cutrim. Eu jamais poderia imaginar
que ele teria uma postura como ele teve. Logo por conta da relação que o
Edmar tinha com a minha família. Aí podem dizer que a política podre,
mas não entendo dessa forma. A política é lindo, mas ela tem seu lado
ruim. Não é possível tirar o lado ruim. A postura do Edmar Cutrim não
foi absurda, mas me chateou, foi uma grande decepção, fiquei pasmo.
Em relação ao PT. Houve a
gravação do Lula, faltou a gravação da Dilma e a presença dos dois aqui
no Maranhão. Fica uma mágoa com a Dilma?
A Dilma não gravou, não veio e também
distribuiu material com o Flávio Dino. Eu acho que ela foi injusta
comigo, mas também não guardo mágoas. O Lula foi fantástico comigo.
E qual vai ser a tua postura no segundo turno?
Eu costumo ter uma palavra só. Eu disse que apoiaria a Dilma até o fim e assim eu vou.
O Flávio era candidato a 4 anos e
o senhor a 4 meses. Se o senhor tivesse tido o mesmo tempo, o senhor
acredita que teria sido vitorioso?
Se eu tivesse mais controle sobre as
ações do governo e se eu tivesse tido o tempo que o Luis Fernando teve,
certamente o resultado teria sido diferente. O governo não me ajudou,
pois tinha seus problemas, não por má vontade, mas por conta dos seus
problemas. Eu não estou dizendo que o governo foi o culpado pela minha
derrota. Mas se tivesse agido de forma diferente, o governo poderia ter
me levado a vitória. Outro problema era a questão do tempo de governo,
era antigo e mesmo assim não era ruim, mas o sentimento de mudança era
muito grande.
Quais são seus planos para o futuro?
Cuidar da minha família. Agora quero nem
pensar em política. Em 2016, tenho uma dívida de gratidão com alguns
amigos e eu vou procurar ajuda-los. Eu penso organizar a minha vida, que
está largada a muito tempo por conta do Senado e eu quero cuidar um
pouco de mim. Já disse ao meu pai que nem quero ficar no Senado, quero
voltar pra casa. Saio sem segundas palavras, saio como se tivesse tirado
um fardo das minhas costas. Agora estou leve. Não sei qual tipo de
perseguição vou sofrer. O que o governo adversário vai fazer comigo.
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